segunda-feira, 12 de maio de 2008

Moby - O RENASCIMENTO DE UM ARTISTA


Ao longo da turnê do Play, eu estava tocando em lugares enormes, com capacidade para 10 mil pessoas, e estava odiando. Logo percebi que discotecar em pequenos clubes era o que me fazia feliz”
Ele continua parecendo meio esquisito, um pouco nerd demais, quase um Woody Allen da música, com sua inteligência afiada e sua mania por chá de ervas. Aos 43 anos, o carequinha cheio de opinião tornou-se um nome conhecido por suas trilhas de comerciais de televisão, gigantescos shows ao vivo e troca de tapas via imprensa com celebridades como Eminem, mas é como um DJ/produtor que ele está agora mais feliz do que nunca – apesar do paradoxo. “Quando se está em turnê, fazendo seis shows por semana e vivendo num ônibus, não dá para ser muito louco, porque é realmente um estilo de vida cruel. Já como DJ, tenho certeza de que quando toco bêbado toco quase tão bem como quando estou sóbrio. Minha mixagem é uma confusão, mas felizmente os vinis não sofrem – enquanto que se você estiver se apresentando ao vivo, a embriaguez deixa a música sofrível.”
O fato de poder beber antes e depois de um set foi apelativo demais para Moby voltar. “Gosto do aspecto gregário, celebrador de tocar como DJ. É muito divertido. E você começa a dormir em sua própria cama. Alguns DJs ainda são muito rock’n’roll”, prossegue ele. “Pessoalmente não tenho a constituição física para fazê-lo. Não posso tomar qualquer droga. Meu cérebro e meu fígado... Se eu fosse sair e tomar uma bala, e ficar até dez horas da manhã acordado, estaria destruído durante os três dias seguintes. Simplesmente não posso fazer isso mais. Mesmo agora, se eu sair e tiver uma louca noite bebendo muito, fico baleado nas próximas 24 horas. Ainda assim, muitas vezes vale a pena, porque isso é muito divertido.”
Faz quase um quarto de século que Moby é DJ. Ele começou a discotecar no estado de Nova York no meio dos anos 80 e nunca mais parou. Pouca gente sabe disso. Ao entrar no consciente coletivo com aquele sampler absurdo de Twin Peaks, na faixa raver “Go”, no começo dos 90, Moby parecia ter saído do nada. Mas sua trajetória até “Go” revela um jovem imerso na cultura cluber nova-iorquina desde muitos anos antes. Depois de largar a universidade em 1984, o jovem punk rocker começou a freqüentar um bar chamado The Beat in Port Chester, em Nova York. Ele ficou amigo do dono e começou a discotecar às segundas à noite. “Tinha uma clínica de metadona na mesma rua, então o bar ficava cheio de viciados em heroína, trabalhadores braçais latinos, punk rockers e estudantes de arte”, ele conta. “Eu discotecava das dez da noite às quatro da manhã e recebia US$ 20. Muito do ecletismo da música que faço agora vem daquele período”, acredita.
“Depois comecei a discotecar nas noites de quarta e finalmente peguei os fins de semana um ano e meio depois. Mixava muita new wave, como Dead or Alive, DAF e New Order, e aí a house music começou...”
Um novo seguidor, Moby achou uma loja de discos em New Haven chamada Cutler’s que começou a adquirir essa nova música eletrônica vinda de Chicago. “Discos como The House Music Anthem, do Farley Jackmaster Funk, e coisas da Trax – e eu comprava tudo”, conta sorrindo. O maior sonho de Moby naquela época era discotecar na cidade de Nova York, então ele distribuiu suas mixtapes pelos clubes, bares e estações de rádio da Big Apple. Conseguiu eventualmente algumas gigs num clube chamado Milk Bar antes de ter o que ele diz ser “a maior sorte que já tive, sem a qual eu provavelmente estaria lecionando numa faculdadezinha qualquer”. Mars, na Westside Highway, era o clube mais cool de Nova York e Moby conseguiu uma residência ali. Felizmente, aquele era o momento em que seu amor pela house music e pelo hip-hop estava se transformando em hip-house – e a nata dos rappers da cidade ia curtir por lá. “Quando discotecava mantinha um microfone perto das pick ups”, ele lembra. “Uma noite os caras do Run DMC vieram e o Big Daddy Kane e os Ultramagnetic MCs chegavam perto da cabine... Eles ficavam chapados e queriam impressionar as garotas, então pegavam o microfone. Era uma época maravilhosa.”

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